21 de maio é o dia dedicado a homenagear a
língua nacional. Língua nacional é aquela que se fala numa nação. Na nossa nação, o
Brasil,
como você sabe, essa é a língua portuguesa. Então, pode lhe parecer o
caso de se perguntar, antes de mais nada: uma coisa tão banal quanto a
língua que falamos, que utilizamos a todo instante, até em nossos
pensamentos, merece mesmo uma homenagem?
Para responder essa
pergunta, é preciso ter em mente que uma língua não é, de jeito nenhum,
algo tão banal quanto parece ser. A língua é um sistema de representação
constituído por palavras e por regras que as combinam em frases, as
quais os indivíduos de uma comunidade lingüística usam como
principal meio de
comunicação e de expressão,
falado ou escrito.
Nesse sentido, a língua é abstrata como todos os conceitos. Ela só se torna concreta quando é usada por alguém no
processo de comunicação.
Isso ocorre toda vez que alguém fala ou escreve, de modo que o exemplo
mais concreto que se pode oferecer agora é precisamente o texto que você
está lendo. Ele foi escrito por alguém e para alguém com a finalidade
de comunicar alguma coisa.
Comunidade lingüística
Note
que, nesses termos, isso poderia ter sido escrito em qualquer língua, se
estivesse sendo escrito em qualquer outro país que não usa a língua
portuguesa como meio de comunicação e expressão. E assim se revela a
importância da expressão "comunidade lingüística"
empregada na definição de língua. Toda língua é o meio de comunicação e expressão de um
grupo de pessoas em particular, de uma comunidade específica, de um povo, de uma nação.
Isso
deixa claro que há uma relação profunda entre uma língua e o povo que a
fala. A língua é o meio de expressar a maneira pela qual esse povo - e
nenhum outro - compreende o mundo, assim como é o meio através do qual
esse mesmo povo se coloca no mundo. Portanto, a língua traduz a
identidade de um povo, seu modo de ser e de estar.
O povo brasileiro se expressa por meio da língua portuguesa, aquela que os
colonizadores portugueses
trouxeram para nosso território, difundindo-a e fazendo-a tornar-se a
forma de comunicação e expressão predominante por aqui. No entanto, a
língua do povo brasileiro não é idêntica à do povo português.
Língua e história
O português falado e escrito no
Brasil
recebeu a influência e a contribuição de diversas outras línguas,
especialmente das diversas variações do tupi falado pela maioria das
nações indígenas que aqui vivia antes da chegada do colonizador, bem como do
idioma ioruba dos povos africanos jejes e nagôs que para cá foram trazidos como
escravos. Trata-se de um longo processo que se estendeu ao longo de quase quatro séculos.
No
entanto, não foram só as influências africanas e indígenas que ajudaram
a moldar o português do Brasil. No século 19, nossa língua também foi
influenciada pelo francês, que era falado pelas elites intelectuais do
país. Já no início do século 20, vieram as contribuições dos imigrantes,
em especial dos italianos, que se estabeleceram nas regiões Sudeste e
Sul. Em matéria de línguas estrangeiras, é a influência do inglês que se
faz sentir mais notadamente entre o fim do século passado e o atual.
A
língua, portanto, é um fenômeno dinâmico, que está sempre evoluindo e
se modificando. Desde as origens do português (e de todas as línguas)
tem sido assim. A língua portuguesa originou-se do latim, o idioma que o
Império Romano
difundiu por todo o continente europeu por volta do século 3 a.C. E
convém lembrar que esse latim já havia sido bastante influenciado pelo
grego, uma vez que a
civilização helênica tornou-se um modelo para
Roma.
Línguas neolatinas
De qualquer modo, à
medida
que se afastou do seu centro de difusão, Roma, e se espalhou pelo
continente, o latim foi sofrendo modificações e influências de línguas
locais e regionais e passando por transformações. As mudanças não
decorriam somente de fatores geográficos, mas ainda históricos: a
passagem do tempo também contribui para que uma língua se altere. E a alteração pode ser tanta, que ela acaba se tornando outra.
Com o latim essas transformações ocorreram devem ter ocorrido e se acelerado entre o fim do
Império romano do Ocidente (século 4 d.C.) e a
Idade Média. Deram
origem às
línguas neolatinas, grupo que abrange principalmente o
espanhol,o francês, o italiano, o português e o romeno, mas também o galego, o catalão e o provençal.
O português desenvolveu-se na
península Ibérica.
Diferenciou-se do que viria a ser o espanhol no século 9, quando o
Condado Portucalense se desmembrou dos reinos de Leão e Castela, num
processo que originou, respectivamente,
Portugal e a
Espanha. A língua portuguesa dessa época - o português arcaico - ainda diferia bastante da que falamos hoje.
Gramática e Acordo Ortográfico
Somente por volta do século 16 o português ganhou sua forma "atual", encontrando sua maior
expressão escrita em "Os Lusíadas", poema épico de
Luís de Camões, que se transformou na principal referência para o estabelecimento de uma
gramática
da língua portuguesa. Por gramática, pode-se entender o conjunto de
normas que determinam o uso de uma língua de modo a uniformizá-la, a
torná-la comum e compreensível
para todos os que a têm como língua materna.
Essa
idéia de uniformização da língua portuguesa ganha um especial destaque
no ano de 2008, quando se concluiu o Acordo Ortográfico que pretende
padronizar e unificar o modo de se escrever as palavras do português nos
países em que hoje ele é falado.
No presente, além de Portugal e do Brasil, o português é a língua nacional de
Angola,
Cabo Verde,
Guiné-Bissau,
Moçambique,
São Tomé e Príncipe, e
Timor Leste. Trata-se da quinta
língua mais falada no mundo contemporâneo. Ela é um patrimônio comum a mais de 200 milhões de falantes no mundo inteiro.
A
idéia que está por trás do Acordo Ortográfico é a de que qualquer
falante da língua, independentemente do país de que provém, possa se
entender
com os outros falantes do português em qualquer país onde ele é a língua nacional.
Referências bibliográficas
- História da Língua Portuguesa, vols. 1 a 6, Segismundo Spina, Dulce de Faria Paiva, Edith Pimentel Pinto, Rolando Morel Pinto e outros. Editora Ática, São Paulo.